segunda-feira, 28 de abril de 2008

Carta

Pela última vez falarei, ou escreverei, ou sequer pensarei sobre o assunto que explorarei nos próximos parágrafos. Chamem-lhe uma despedida. Chamem-lhe recomeço.
Despeço-me em breves palavras de meses da minha ainda curta vida. E tudo aquilo que penso ou crio não tem valor ou utilidade a alguém que não eu. As minhas viagens cognitivas trazem prazer, unicamente, a mim. Agradeço o bilhete de ida e volta. Todas as descobertas e procuras. A descoberta da humanidade que não sabia possuir. Mais que os protestos, mais que todas as glórias, foram os momentos simbólicos e mitológicos em que mergulhei. Parto sem peso na consciência. As máscaras foram retiradas e agora mais não tenho que recear. Nada de mim está escondido. Consigo ver para além do meu cérebro, para além do meu ser. Longe estava e voltei.
Alegria e revolta. Consonância difícil e perigosa: saudável. Os tempos andaram e tudo foi enterrado no fundo do mais profundo oceano. O barco veio e quis ser ele próprio. A escolha não foi minha. Fiquei pela metade: um dia eras o expoente, noutro já não existias.
Tal como te despediste de Woody Guthrie eu me despeço de ti. Porém sem o brilhantismo das tuas palavras. Apenas com a humildade dos meus pensamentos e o egocentrismo da minha liberdade. Encontrar-te-ei um dia quando a minha realidade não for mais Freewheelin’. Nesse dia voltaremos a ver-nos como velhos amigos. Contaremos velhas histórias, recordações e piadas familiares. Dores antigas não mais serão tristeza. De tudo não restarão acordes menores.
Despeço-me onde tudo começou: Sara.



Zita Esquerda de Sá.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fluorescente a despedida…tanta luz, mas, ainda agora cheguei!
Recente esta mania: tudo o que lemos, ou ouvimos, há-de merecer um comentário.
Ninguém sabe aquilo que é só meu, mas, ainda assim…
- Reles!
Gritou a multidão: um cento de pessoas enraivecidas, de verem que nas tuas linhas correm lágrimas verdadeiras.
Jamais digas adeus. Ergue os teus exércitos. O futuro é lutar.