quinta-feira, 10 de abril de 2008

Rumos

Muita vontade tenho de partir e não mais voltar. Ir e não regressar. Começar algures noutro local. Rumar um sítio inexistente aqui. Partir no silêncio da noite, na descrição do escuro, no vácuo prometedor do agnosticismo. Sem tudo e com nada. Partir e não mais voltar.
Encontrar a liberdade que não sei existir. Romper os horizontes longínquos. Além-mar viver. Percorrer o mapa da esperança, e depois, voltar, e continuar logo a seguir. Não mais ter saudade. Não mais sentir o cinzento das ruas portuguesas, nem o peso da herança de um país que navega contra o vento da mudança.
Só, irei, partirei e não voltarei. Percorrerei a noite da luz. Serei livre e inconsciente, sem o peso da melancolia do passado. Sem folar. Correrei e sentirei. Não mais me lembrarei das ruas cinzentas do meu país. Não mais o vento marítimo português me tocará. Não sentirei saudade.
Vontade enorme de partir. Meu orgulho, herança antepassada, e pesada, morrerá. Minha alma estará vazia ao esquecer tudo o que não é meu, mas entranhado está. Irei para longe, não mais te verei...
Ó Portugal, minha casa, perdoa: a negação que faço ao que de teu há em mim; o disfarce da melancolia fadista e a cinza de minha alma. Arrepender-me-ei de omitir os acordes da tua guitarra, e de amaldiçoar tuas cidades à beira mar. Não voltarei a ignorar a tristeza das ruas e vielas vazias do interior, nem o provincianismo do litoral. Em dias tristes e opulentos viverei até teu perdão alcançar. Porém, antes, terei de partir. Liberta-me e voltarei.


Isabel Arantes

1 comentário:

el psi disse...

Parte quando e como quiseres Isabel, mas avisa-nos antes de voltares! Parabéns!!!