quinta-feira, 10 de abril de 2008

Prelude

I
“And I’ll tell it, and think it, and speak it, and breathe it, and reflect from the mountain so all souls can see it. Then I’ll stand on the ocean until I start sinkin’. But I’ll know my song well before I start singin’.”
-Bob Dylan, in Hard Rain’s Gonna fall”

Nós sabemos que drogas são más, sexo é mau, rock n’ roll já não é moda e para quem ainda não tenha percebido: o Andy Warhol já morreu. Ouço línguas e a chuva continua a cair. Da mesma forma que caiu antes. Continuo a andar em estradas sem sinalização, em oceanos sem água. É cansativa a continuidade.
Mas continuo. É uma odisseia de descoberta. Estou indo para casa, ainda não a encontrei, estou indo para lá apesar de tudo. Penso que a deixei um dia. E agora vou ao encontro dela outra vez. Não tenho quaisquer ambições: estou indo apenas ao meu encontro.
Afastadas as possibilidades extremistas. Afastados os perigos da paragem no tempo, vivo num gira-discos, sou quem não sou: obviamente gosto da ideia. Não se encontram no mapa as ruas da revolução. O sustento advém depois. Claro que neste espectáculo não se cria nada para além de tecnologia; e mesmo essa não é criada, é desenvolvida.
Penso na música americana do século XX. Música popular lá está. Aquela que falava do que mais ninguém falava. A música dos negros: Jazz! Folk Music! Blues! Depois há música dos que viam filmes do Nicholas Ray e comiam gelados em “drives in”. Aparece o Rock n’ roll! E Brando, e a moto, e Dean, e todos os rebeldes. E a paranóia. Vai tudo explodir. Virá numa nuvem e destruirá o espaço.
Ah! Como tudo isso me encanta! Tecnicholor, clima de guerra-fria, cinema Noir, crimes por resolver na Hollywood dos 50’s, estrelas de cinema com sorriso bonito e mente conturbada, escândalos políticos, assassinatos, grandes discursos na televisão, cidades cheias de cor e vivacidade que a nova moda trouxe consigo, corrupção no FBI, corrupção na CIA, revoltas na rua, estudantes furiosos, Elvis a engordar, América. Mundo. Europa. “To the moon”, gritam! Marlon Brando com a manteiga (nós sabemos onde), artistas loucos, pessoas loucas, mudança, mudança, fogo, fogo, fogo!
Em suma, se queres fazer a tua arte vai passear o cão. Porque de repente serás livre. Não terás mais a tua mente a preencher-te a mente. Não precisas escrever se não quiseres. Na verdade, se quiseres, não precisarás de fazer nada!


Zita Esquerda de Sá

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