terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Poleiro Aconselha

Esta semana os Galos aconselham:

Cinema:
Pedro o Louco (1965), Jean-Luc Godard

 
O Apartamento (1960), Billy Wilder



Literatura:
-A Metamorfose (1915), Franz Kafka
-A Peste Escarlate (1912), Jack London

Música:
Concertos:
15 Agosto, Largo da Porta Nova, 22h: Hands on Approach
16 Agosto, Largo da Porta Nova, 22h: Squeeze Theeze Pleeze

Exposições:


Grito- Exposição de Pintura de José Ferreira
2 a 31 de Agosto na Galeria Municipal de Arte

Une Femme

Depressa. Organizemo-nos. Luzes! Câmara. Acção! Um café não muito cheio onde as horas já não passavam excepto em direcção à doença da reforma. Ou aquele quiosque onde param os conhecidos que não se vêm. A maquilhagem é clara e o azul predomina. Que postais bonitos, com animais muito amarelos, e sorrisos pouco fingidores. Oh, que ar triste… Em que pensas? Não te vás embora! Boa noite. Feliz não-aniversário. Virgem? Hum… fala em sentimentos, e acontecimentos muito felizes. Pode ser que corra bem. Que música de circo insuportável! Que dor de cabeça…
Era uma vez uma rapariga que amava dois “tipos” ao mesmo tempo. Mandou-lhes um telegrama a marcar um encontro. Duas horas de diferença, um a Norte, outro a Sul. Logo após pôr os telegramas no correio apercebeu-se de que tinha trocado os envelopes. Correu para casa do primeiro, o envelope ainda não tinha chegado; ela é obrigada a contar tudo. Ele atira-a contra a porta quando descobre que a rapariga andava também com outro. Ela corre para o outro lado da cidade, para a casa do outro: o telegrama já tinha chegado. O segundo não parecia nada chateado. Pelo contrário. Muito rapidamente ela explica o que se passou. Então, ele atira-a também contra a porta, e mostra-lhe o telegrama.
A rapariga percebe que não tinha trocado os envelopes.
A história não interessa; apenas o carácter: a rapariga que se engana sempre.
Karina não concorda. Sabe apenas que não há diferença na expressão. Seja verdade ou mentira. Cada um por si, é triste, teria que haver a certeza. Há quanto tempo que não sei que dizer, e tenho medo. Fiquei admirada pelas notícias, e intriga-me a razão. De que vamos falar hoje? Inventar um assunto que não é compatível; fazer pequenas inconfidências, e confessar indirectamente algo? Atravessar todos os pensamentos no anseio de encontrar algo em comum: talvez uma música que expresse o vazio.
Engano-me sempre. Bem sei que deve haver uma diferença entre a verdade e a mentira.
Por enquanto espero e espero. Mas enquanto isso, não me apetece pensar. Já aturei o suficiente; e ainda nada suportei. Deixa-se ir, deixa-se ir. Que visão! Que pose! Que beleza transversal.
A miúda dos dois “tipos” não sabe ainda.
“Volta a ser a rapariga”.
Inventei um truque espectacular. Ouvir o Charles durante a caminhada: ver uma foto e perceber que a foto está desfocada porque a maquilhagem não está devidamente proporcional, e não convém olhar directamente a câmara. Exasperas-me. Não adianta nada beber. Mesmo assim… E quando fechei os olhos vi formas sem curiosidade alguma, sem atracção ou máscara.
Então Aznavour deixou de fazer sentido.

Para,
Anna Karina
(e todas as outras).

L.S.A


Passeios interiores

"Os olhos são um grande rio de sons
Sensações luminosas que alimentam a alma
De quem respira, como se o ar fosse mais leve,
Mais capaz de decifrar a vida
No seu enigmático esplendor.
A sombras que neles flutuam,
Levemente, do cruzamento das ideias,
Do timbre da voz do nada,
Inquieta-os, perpetuando neles a esperança
Fugitiva, que em pranto chora."

Júlia Fernandes


Passeando no Interior parei,
Num momento lancei um olhar
Sobre o horizonte enevoado,
Ferido pelos últimos raios
De púrpura e sangrento sol de tarde.
Um vapor espesso sai de corpos,
Deambulares de rua,
Onde o ruído era menor no ar
E como pilares erguiam-se
em ambas margens do rio ao céu,
O fumo de casas.
Adensavam-se umas sobre as outras,
Como rochas ou penedos
Se amontoam sobre os cimos dos montes
É como se formassem uma nova cidade
Sobre nuvens...

Era como se tudo fosse belo...
Estava a ver o mundo.

Catarina R. Cachada

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Parto

De Bergman a Fellini;
passando por Godard,
revisitando Truffaut.
Se não houver De Sica
podes sempre assistir a Scorsese. E se não te
apetecer ver um filme:
lamento imenso!
É só tomar um lado e escolher,
as vidas que queres acolher.
Não há vida sem andamento.
E cinema
é dar movimento à vida que nem tu
nem eu temos.

Há quem não goste de políticas:
capitães do barco da tristeza.
Anda tudo doido com o sindicalismo.
A mim nada disso tem efeito:
nas minhas veias correm fitas,
e na minha mente passam rostos expressivos.
Sou editor de livros cinematográficos; nem sequer um li.
Mas sabem, que ser cinéfilo não é fácil.
Depois de ver Welles,
a vida sabe a muito pouco.
Nem Kafka me descansa o Existencialismo.

Entrei em todos os locais que pude, enquanto pude.
Rondei todos os bares, e vielas,
andava eu à procura do Mastroianni.
Em vez dele, encontrei a Sophia,
e ele! Fazia-lhe ela um striptease.
Tal escandaleira nunca antes vi.
Até que comprei o Ultimo Tango Em Paris,
e admirei-me com tanta manteiga.
Não era Light.

Que diabo, cinema, cinema.
Citações sobre cinema encantam-me.
“Tudo que precisas pa fazer um filme
é de um revólver e de uma miuda.”
Cinema, cinema. Luz.
Eu te louvo, meu cinema.
Meu amor.

Casablanca entrou-me de rompante.
Parecia um vendaval. Em Marrocos!
Bergman e os planos. Bela!
Bogard procurava água no deserto,
outros procuravam fuga.
Outros encontravam a fuga lá.
Outros viram o filme porque não tinham mais que fazer.
Todos nós nos encontramos em Casablanca.

Depois lutei ao lado de Scarlett O’Hara.
Forte como ela, eu fui…
Ninguem me subjugou, enquanto a tinha em minha mente.
Aproveitei a boleia da Vivien Leigh até ao
Electrico Chamado Desejo!
Brando, Brando…

Selvagens entre mil, venturosos.
Homens sem medo, com sentidos:
meu Paul Newman,
meu Steve McQueen,
meu Sidney Poiter…

E Dean! Amado e respeitado,
por todos os jovens que te viam um espelho.
Rei tu não precisaste ser, Rebelde Príncipe.
Lá te foste tu embora antes de nos dizeres a fórmula
para Sempre Jovem Ser.
James Dean, you’re not tearing me apart.

Vós, ó geração de sessenta,
não vos ides agora.
Fiquem, fiquem.
Todos vós, belos e jovens, numa época de utopias.
o meu cinema como coisa vossa,
o alimentaste,
o conservaste.

E agora: Honoré.
Duris;
Duris, Duris. Eterno camaleão.
Garrel. Caminha pelas ruas de Paris, com os olhos no céu:
procurando uma espécie de luto. Por entre lágrimas subindo o subway: sem respostas. E cada minuto
é como um túmulo,
Garrel que luta.
Carismático.
Em breve será apenas uma memória:
cinzentas são as ruas.
As ruas de Doinel.
As ruas de Garrel.

Cinema, cinema, com todos os teus heróis,
filósofos, pensadores e racionalistas.
Estrelas e futuras estrelas.
Artistas!
Não meu és indiferente.
Meu primeiro amor,
para sempre,
insubstituível,
para além do,
substituível.
Cinema, a arte de fazer acontecer
coisas boas
a mulheres bonitas.
Cinema,
não
é necessário beleza ter
para em mim beleza conseguires
suster.


“Quantité de personnes ont ainsi une âme qui adore nager. On les appelle vulgairement des paresseux.”


Isabel (L.) Arantes

Mãos

Costumamos cercar de palavras as grandes catástrofes para nos protegermos delas.
Recordo o tempo, citando palavras sem significado que sem saber bem porquê, me dão alguma orientação: fazendo-me sentir bem. O silêncio que outrora dera conta de mim, hoje sou eu quem o tenta reencontrar e trazê-lo de volta. Compreendi que se o fizesse reviver talvez reencontrasse a alma perdida que de mim voou pelos campos enormes de trigo que hoje se substituem por enormes construções.
Para mim voltar a ter alma è voltar a poder sentir que palavras justas e com sentido saem da minha boca como uma melodia que se confunde com o vento.
Palavras essas que sendo informais são a seiva da literatura, a matéria bruta a partir da qual se constrói uma história.
Da literatura que aparecera como uma criação fictícia já só lhe resta leves memórias.


Essa mão jamais a esqueceremos...

Visitem a Feira do Livro em Barcelos.



Catarina Cachada

sábado, 14 de junho de 2008

Existencialismos:

 





VAZIO 








Zita Esquerda de Sá








sexta-feira, 13 de junho de 2008

Façam Vénia

Eu. Começo a reunir forças como reunia tropas. A minha juventude passada ajuda-me a combater as excentricidades excessivas de jovens que aparecem e pensam que ao ser criativos todos os seus actos serão justificados.
Barcelos minha já foi, num tempo onde cultura se fazia com base na nossa gente, viam-se as caras das pessoas no meio de campos de milho, as saias bailavam ao vento como uma bandeira de uma nação forte e sem actos com falta de responsabilidade. Há muito tempo que queria dar o meu tempo para explicar aos nossos jovens como podem ser respeitados de novo. Antes deste conformismo geral que se instalou nos cadetes da vida faziam-se revoluções para melhorar o seu redor, agora sou eu que aconselho a revolução dentro de cada um dos insubordinados.
Amem as vossas mães e pais, pois cedo e bem ficarão com semelhante encargo. Construam, empreguem, falem! Mas não entorpeçam regimes com as vossas causas fúteis. Formem um pelotão organizado de pensadores que não pensem com as palavras dos outros: fogo neles! Quero ver a disciplina outra vez, por isso vamos lá fazer uma vénia. Façam, façam porque quem manda é quem tem o poder e não quem é mandado.
Podem dispersar.

General Antunes

terça-feira, 3 de junho de 2008

O Poleiro Aconselha

Esta semana os Galos aconselham:

Cinema:
O Fabuloso Destino de Amelie (2001), Jean-Pierre Jeunet

Literatura:
A Luz Prodigiosa (2004), Fernando Marías

Música:
Simon & Garkunfel,
Sound of Silence (1965)

Inevitavelmente a Crítica à Razão


Quem

o seu povo

o mundo todo!
Esta é a regra. Em Barcelos os Homens são vistos, e o mundo é projectado.
A decadência não convém agora citar.
Rosa Côta:
sua herança carregada de sabores minhotos está nos Paços do Concelho.
Espera uma visita.
Mas atenção! Não há lá dístico azul.

Ontem ouvi o seu nome
no caminho que levava um rumo sem sinal.
Não sei onde me leva esse tal caminho
mas era de lá que o seu nome se manifestava.
E eu segui...
Apenas porque o cheiro do caminho se confundia
com o cheiro do seu barro e da sua pintura.
Porém ela esperou por mim.

Espero apenas um sinal.
Esperas apenas um sinal.
E eu acredito que
talvez a vida seja uma mistura de sonhos
com realidade.
Mas eu vi
a exposição de Rosa Côta.


Catarina Cachada & Isabel Arantes

Visita Guiada

Desce, desce, desce. Não olhes para o lado direito, isso ficará para uma outra altura, o objectivo de hoje é um pouco diferente.
Em frente, sempre em frente. Começas por ver janelas para um mundo exterior bastante fictício, colorido, alegre, não é??? Ainda não é aí, segue em frente, só mais um pouco!
Isso, aí, aí mesmo. O que vês? Bem te avisei que não era assim tão fácil, mas quem procura pacientemente, está bem mais perto de encontrar.
Olha, sentes-te sozinho agora, ou só prisioneiro de alguma coisa de que nem te dás conta? Pois, também me senti assim, mas só mais logo te vais dar conta, entretanto move-te.
Mas olha só, desprende-te um pouco e agora sente o toque, a luz, o som! De qual destes gostas mais ao nível do som? Oh, não! Nesse não há qualquer som, é só luz, cores… blaaaarg! Este sim, tem uma intensa sonoridade, hummm!
Bem bem, tanta fraternidade. Não saberão eles que a utopia é algo que só os loucos e os sonhadores admiram?
Ah, isto sim, isto é que é vida real! De que lado queres ficar? Então não percebes, olha o título Faixa de Gaza, diz-te tudo. Eu gosto dos da direita, têm ar de quem não tem mais nada para fazer, os da esquerda levam isto tão a sério…
Agora sim, algo que não consigo compreender. Afinal não é essa a essência da obra de arte? Oh sim, tens razão. Cabelo comprido, ar de carpideira, é isso mesmo! Esses grandes intelectuais é que têm razão ao banalizar estas Inquisições tão pacóvias.
Este não, não olhes sequer: pura ofensa sensitiva. Sigamos em frente.
Eia, que beleza, que maravilha! Não percebes onde está a arte? Oh, deixa-te disso. São preciosismos que ultrapassam a irrelevância do nosso ser…

Jorge Marques