sexta-feira, 27 de junho de 2008

Parto

De Bergman a Fellini;
passando por Godard,
revisitando Truffaut.
Se não houver De Sica
podes sempre assistir a Scorsese. E se não te
apetecer ver um filme:
lamento imenso!
É só tomar um lado e escolher,
as vidas que queres acolher.
Não há vida sem andamento.
E cinema
é dar movimento à vida que nem tu
nem eu temos.

Há quem não goste de políticas:
capitães do barco da tristeza.
Anda tudo doido com o sindicalismo.
A mim nada disso tem efeito:
nas minhas veias correm fitas,
e na minha mente passam rostos expressivos.
Sou editor de livros cinematográficos; nem sequer um li.
Mas sabem, que ser cinéfilo não é fácil.
Depois de ver Welles,
a vida sabe a muito pouco.
Nem Kafka me descansa o Existencialismo.

Entrei em todos os locais que pude, enquanto pude.
Rondei todos os bares, e vielas,
andava eu à procura do Mastroianni.
Em vez dele, encontrei a Sophia,
e ele! Fazia-lhe ela um striptease.
Tal escandaleira nunca antes vi.
Até que comprei o Ultimo Tango Em Paris,
e admirei-me com tanta manteiga.
Não era Light.

Que diabo, cinema, cinema.
Citações sobre cinema encantam-me.
“Tudo que precisas pa fazer um filme
é de um revólver e de uma miuda.”
Cinema, cinema. Luz.
Eu te louvo, meu cinema.
Meu amor.

Casablanca entrou-me de rompante.
Parecia um vendaval. Em Marrocos!
Bergman e os planos. Bela!
Bogard procurava água no deserto,
outros procuravam fuga.
Outros encontravam a fuga lá.
Outros viram o filme porque não tinham mais que fazer.
Todos nós nos encontramos em Casablanca.

Depois lutei ao lado de Scarlett O’Hara.
Forte como ela, eu fui…
Ninguem me subjugou, enquanto a tinha em minha mente.
Aproveitei a boleia da Vivien Leigh até ao
Electrico Chamado Desejo!
Brando, Brando…

Selvagens entre mil, venturosos.
Homens sem medo, com sentidos:
meu Paul Newman,
meu Steve McQueen,
meu Sidney Poiter…

E Dean! Amado e respeitado,
por todos os jovens que te viam um espelho.
Rei tu não precisaste ser, Rebelde Príncipe.
Lá te foste tu embora antes de nos dizeres a fórmula
para Sempre Jovem Ser.
James Dean, you’re not tearing me apart.

Vós, ó geração de sessenta,
não vos ides agora.
Fiquem, fiquem.
Todos vós, belos e jovens, numa época de utopias.
o meu cinema como coisa vossa,
o alimentaste,
o conservaste.

E agora: Honoré.
Duris;
Duris, Duris. Eterno camaleão.
Garrel. Caminha pelas ruas de Paris, com os olhos no céu:
procurando uma espécie de luto. Por entre lágrimas subindo o subway: sem respostas. E cada minuto
é como um túmulo,
Garrel que luta.
Carismático.
Em breve será apenas uma memória:
cinzentas são as ruas.
As ruas de Doinel.
As ruas de Garrel.

Cinema, cinema, com todos os teus heróis,
filósofos, pensadores e racionalistas.
Estrelas e futuras estrelas.
Artistas!
Não meu és indiferente.
Meu primeiro amor,
para sempre,
insubstituível,
para além do,
substituível.
Cinema, a arte de fazer acontecer
coisas boas
a mulheres bonitas.
Cinema,
não
é necessário beleza ter
para em mim beleza conseguires
suster.


“Quantité de personnes ont ainsi une âme qui adore nager. On les appelle vulgairement des paresseux.”


Isabel (L.) Arantes

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