terça-feira, 3 de junho de 2008

Palco

Entrei na sala de cinema, escura e com um claro odor provindo do ar condicionado, cuja última prestação fora paga no mês a seguir à queda das torres do World Trade Center, me sufocava e convidava a sair. Estava vazia, ou assim o pensava eu, e por entre a falta de clarões verifiquei que afinal alguém permanecia na fila L ou P, com margem de erro 2: aquela letra em comum. Lugar 1. Quando tudo surgiu...
Ó límpida imagem, porque te foste? És mais não uma razão. Então. Redonda volta e círculo. Almejo por melhores dias de circuito. Ó floresta aquática: de sombra. Simples em rudeza. O tudo é teu. Somos todos teus. Vi-te e não te vi, continuamente... não! Era um rescaldo. Desviarem-se. Voltei. Olhei. Reparei. Sinónimos outros usei. Analisei. Esperei. De novo subo a escada. De novo a desço. Luz. Cor. Não luz. Diria cor. Voz precoce: grave! Sorriso ultrapassado: Leve. Melodioso. Nem grave, nem agudo. Soube um adjectivo. Não me parece que voltem lá. Talvez hoje mas não amanha. Assim eu fugia: caminho. Falo e falo. Quer dizer, não falo assim tanto. Distante é o Paraíso. Distante, mas não longe. Suponho. Nós somos os sobreviventes. Eu sou.
Oblíqua ceifeira difusa, por entre sons confusa. Não me parece que haja um sentimento consequente. Ora lá, que desespero não existente. Veste-te e foge. Corre. E chegarás a tempo. Além-mar verás o que os pagãos te grunhiram. Longe do Paraíso, por entre impérios e céus: tudo transparece, o sonho humedece depois de tudo, do nada, algo resta. De novo dor. De novo fuga. Razão e mente. Razão novamente; argumento racional, com espelho sensitivo. De novo razão. A culpa surge e o retrato perde o brilho do rosto. A alma reluz por entre sombras. O nome te define. Inevitavelmente. A concepção e a solução sem a diferença dos que acreditam na possibilidade. Naquela obra mal realizada, deficientemente realizada. Eu acredito na leveza insustentável do ser. É possível; não é utópico. A todos aqueles que acreditavam eu glorifico! É possível (o que por si só já é utópico...)! Dá uma sugestão diferente, pode ser que consigas alcançar o número da sorte e difundir a tua identidade num cartaz de rua, rasgado e sujo, sem luz ou cor, ou preto, ou branco, ou amor, antagonismos e compaixão. Exarcebados. Liga-te e não repitas as arestas; inventa-as... Cuidado com os pares, eulariza-lhes a fonte!
Barroco em som, em intransigência. Vê como te choro, vê como fiquei, sem sangue e sem lágrimas. No céu virá o futuro: da chuva, ou de um meteorito. Nada mais tenho que sentir, além do pós Classicismo. Vê como te luto em sangue e em lágrimas. Consigo viver não, que não sons de claviers fantasmas. Sem grande pendor técnico. Apenas a melodia que navega por entre ruas e vielas, obscuras e apagadas. Nada mais decadente há que o final de um livro realista: quando o pano cai, e a natureza humana é deposta: melosa veia artística pastosa. Melancolia observada ao longe por racionalistas do coração. Femininamente falando, não há nada a dizer. Ninguém depois do sufragismo voltou a ser personagem do final realista. Elucidamente descrente.
Gostava de te transcrever em palavras aquele som, lá ao fundo, do piano sobrevivente, observá-lo e após isso, reivindica-lo só para ti, e depois, nada mais existir...




O cinema fechou as portas.
L.S.A.

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