Depressa. Organizemo-nos. Luzes! Câmara. Acção! Um café não muito cheio onde as horas já não passavam excepto em direcção à doença da reforma. Ou aquele quiosque onde param os conhecidos que não se vêm. A maquilhagem é clara e o azul predomina. Que postais bonitos, com animais muito amarelos, e sorrisos pouco fingidores. Oh, que ar triste… Em que pensas? Não te vás embora! Boa noite. Feliz não-aniversário. Virgem? Hum… fala em sentimentos, e acontecimentos muito felizes. Pode ser que corra bem. Que música de circo insuportável! Que dor de cabeça…
Era uma vez uma rapariga que amava dois “tipos” ao mesmo tempo. Mandou-lhes um telegrama a marcar um encontro. Duas horas de diferença, um a Norte, outro a Sul. Logo após pôr os telegramas no correio apercebeu-se de que tinha trocado os envelopes. Correu para casa do primeiro, o envelope ainda não tinha chegado; ela é obrigada a contar tudo. Ele atira-a contra a porta quando descobre que a rapariga andava também com outro. Ela corre para o outro lado da cidade, para a casa do outro: o telegrama já tinha chegado. O segundo não parecia nada chateado. Pelo contrário. Muito rapidamente ela explica o que se passou. Então, ele atira-a também contra a porta, e mostra-lhe o telegrama.
A rapariga percebe que não tinha trocado os envelopes.
A história não interessa; apenas o carácter: a rapariga que se engana sempre.
Karina não concorda. Sabe apenas que não há diferença na expressão. Seja verdade ou mentira. Cada um por si, é triste, teria que haver a certeza. Há quanto tempo que não sei que dizer, e tenho medo. Fiquei admirada pelas notícias, e intriga-me a razão. De que vamos falar hoje? Inventar um assunto que não é compatível; fazer pequenas inconfidências, e confessar indirectamente algo? Atravessar todos os pensamentos no anseio de encontrar algo em comum: talvez uma música que expresse o vazio.
Engano-me sempre. Bem sei que deve haver uma diferença entre a verdade e a mentira.
Por enquanto espero e espero. Mas enquanto isso, não me apetece pensar. Já aturei o suficiente; e ainda nada suportei. Deixa-se ir, deixa-se ir. Que visão! Que pose! Que beleza transversal.
A miúda dos dois “tipos” não sabe ainda.
“Volta a ser a rapariga”.
Inventei um truque espectacular. Ouvir o Charles durante a caminhada: ver uma foto e perceber que a foto está desfocada porque a maquilhagem não está devidamente proporcional, e não convém olhar directamente a câmara. Exasperas-me. Não adianta nada beber. Mesmo assim… E quando fechei os olhos vi formas sem curiosidade alguma, sem atracção ou máscara.
Então Aznavour deixou de fazer sentido.
Para,
Anna Karina
(e todas as outras).
L.S.A
Era uma vez uma rapariga que amava dois “tipos” ao mesmo tempo. Mandou-lhes um telegrama a marcar um encontro. Duas horas de diferença, um a Norte, outro a Sul. Logo após pôr os telegramas no correio apercebeu-se de que tinha trocado os envelopes. Correu para casa do primeiro, o envelope ainda não tinha chegado; ela é obrigada a contar tudo. Ele atira-a contra a porta quando descobre que a rapariga andava também com outro. Ela corre para o outro lado da cidade, para a casa do outro: o telegrama já tinha chegado. O segundo não parecia nada chateado. Pelo contrário. Muito rapidamente ela explica o que se passou. Então, ele atira-a também contra a porta, e mostra-lhe o telegrama.
A rapariga percebe que não tinha trocado os envelopes.
A história não interessa; apenas o carácter: a rapariga que se engana sempre.
Karina não concorda. Sabe apenas que não há diferença na expressão. Seja verdade ou mentira. Cada um por si, é triste, teria que haver a certeza. Há quanto tempo que não sei que dizer, e tenho medo. Fiquei admirada pelas notícias, e intriga-me a razão. De que vamos falar hoje? Inventar um assunto que não é compatível; fazer pequenas inconfidências, e confessar indirectamente algo? Atravessar todos os pensamentos no anseio de encontrar algo em comum: talvez uma música que expresse o vazio.
Engano-me sempre. Bem sei que deve haver uma diferença entre a verdade e a mentira.
Por enquanto espero e espero. Mas enquanto isso, não me apetece pensar. Já aturei o suficiente; e ainda nada suportei. Deixa-se ir, deixa-se ir. Que visão! Que pose! Que beleza transversal.
A miúda dos dois “tipos” não sabe ainda.
“Volta a ser a rapariga”.
Inventei um truque espectacular. Ouvir o Charles durante a caminhada: ver uma foto e perceber que a foto está desfocada porque a maquilhagem não está devidamente proporcional, e não convém olhar directamente a câmara. Exasperas-me. Não adianta nada beber. Mesmo assim… E quando fechei os olhos vi formas sem curiosidade alguma, sem atracção ou máscara.
Então Aznavour deixou de fazer sentido.
Para,
Anna Karina
(e todas as outras).
L.S.A
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