quinta-feira, 3 de abril de 2008

Os Leopardos

Nós éramos os leopardos, os leões. Os que tomarão o nosso lugar serão chacais, hienas. E todos nós, leopardos, leões, chacais e carneiros, continuaremos a pensar que somos o sal da terra.

(Burt Lancaster, in Il Gattopardo de Luchino Visconti, 1963)


A Revolução Francesa acabou. O Racionalismo já foi inventado. O Grito do Ipiranga já se sucedeu. O nazismo já foi, embora que em teoria, erradicado. O Existencialismo perdeu o fulgor de outrora. O próprio Muro de Berlim não aguentou. Tudo acabou. Não sei muito bem sobre o que escrever, dado que não existem mais razões para continuar. Condeno-me já às consequências do que não sei.
É também de mau tom especular sequer que será aqui a fonte da invenção. A questão é: até que ponto precisa o Homem de estar em constante mutação, ou melhor, em constante descoberta, para seu valor (não) ser testado.
Julgo haver nesta sociedade tema para continuação. Falo da sociedade portuguesa ou na mundial, talvez apenas na barcelense. De qualquer modo, o ser humano parece-me todo igual (este “igual” pode ser tema de “discussão”). Penso existir uma força que o faz mover-se. Do meu profundo idealismo acredito não ser a economia a dita força. Não sei se essa força vem dos clássicos. Ou da música. Da erudição em geral. Ou se por sua vez é fruto de ideias mal digeridas da televisão pública.
Resta a política: o crucifixo da nação. A rua volta a encher-se, desta vez com o vazio de idealismo: herança perdida. Será a rua determinante agora? As palavras fluem novamente, mas sem a intenção de outrora. E aqueles cujo passado se impõe em seus currículos negam o poder do partido morto, não regenerado. O barco continua a navegar mas em breve se afundará. Enquanto isso permanecerão a olhar o que já passou.
Digam à vontade que este, ou outros textos, são de cariz político ideológico invertido à esquerda radical. Não me interessam conclusões. Busco argumentos. Além disso a extrema-esquerda está morta. Resta a tristeza do falhanço...
Assim sendo, na bonita arte de maldizer condiciono-me agora numa luta, à partida, perdida. Tão pouco o farei. Numa tentativa frustrada de não escrever o que penso, mas sim o que “deve” ser dito: negarei alguma vez ter assistido a uma aula de filosofia. Efectivamente os tempos estão a mudar. E nós, os leopardos, permaneceremos aqueles que, fingindo não ver o vento passar, continuarão a ser a essência deste mundo...


Isabel Arantes

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