quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Don't call me Girl

Call girl é mais um filme “português”, como tantos outros. Poderia ser louvável a leve evolução de Soraia Chaves desde “O Crime do Padre Amaro”, se este aspecto não estivesse ininterruptamente escondido pelo seu papel de “sex simbol”, com todos os atributos físicos que lhe são próprios. Figura e atributos à volta dos quais todo o filme se constrói e evolui.
Assim, Call Girl é (e repito quantas vezes for necessário!) mais um filme com “ar” de novela tipicamente portuguesa. Daquelas novelas que parecem nunca mais acabar. E isto não se deve somente à enorme publicidade que assomou o país um mês (!) antes de o filme chegar ao grande ecrã! Mesmo durante o decorrer do próprio filme, no cinema, já o balde das pipocas havia acabado há uma boa meia hora e a trama ainda se embrulhava em mais uma peripécia interessantíssima com mais um grande plano das mamas da Soraia Chaves. Uns dez segundos depois, volto-me para o indivíduo (desconhecido, e com uns curiosos 14/15 anos) que está ao meu lado e pergunto: “o que foi que ela disse?!”. Não obtenho resposta, claro. Mas o filme ainda lá está. E mais outra peripécia. E outra!
Pensei seriamente antes de dar mais esta oportunidade ao cinema português. E novamente me desiludi. As expressões faciais e verbais curiosas (no mínimo!), os actores que valem por fazerem “boas” novelas, ou aqueles que até são bons, mas já com imagem deteriorada, o argumento “actualérrimo”, todos estão lá. E o objectivo será, certamente, cumprido: grandes lucros, elevada audiência, visibilidade, bla bla bla…
Há objectivos e objectivos. O meu objectivo, esse, é louco e está encoberto. Porém, vivo ainda o sonho íntimo de um dia ver emergir alguém capaz de deixar os cinéfilos portugueses orgulhosos do cinema do seu país.
Cinéfilos que, garanto, são muitos e fiéis. Cinema que, proponho, “esqueça” Manoel de Oliveira – e toda a nostalgia do que já lá vai – e lance um olhar sobre a Europa “cultural”.
É possível.





Jorge Marques

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